O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) afirmou ontem (11) que a Vale sabia desde o fim de 2017 que a barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) não atendia a critérios de segurança. Segundo o órgão, o problema na estrutura foi discutido em reuniões e houve até em uma apresentação de Power Point com cálculos matemáticos. A empresa diz que nenhum depoimento de funcionários da Vale indica conhecimento prévio de risco de ruptura.
A empresa diz que nenhum depoimento de funcionários da Vale indica conhecimento prévio de risco de ruptura."A situação começou a ser questionada no fim de 2017. Começaram então a discutir alternativas para que esse fator de segurança fosse melhorado. Uma dessas alternativas começou a ser implementada, surgiu um problema com a implementação, a empresa interrompeu e, a partir de então, nenhuma outra providência prática foi adotada", disse ontem a promotora Paula Ayres, da força-tarefa que apura a tragédia. O desastre já tem 200 mortos confirmados e 108 desaparecidos. Segundo a promotora, não é possível determinar que alguém seja o responsável por não tomar as medidas necessárias. Até agora, 18 pessoas foram ouvidas. A maioria funcionários da Vale e da empresa Tüv Süd, que atestou a segurança da estrutura. "Cada um teve acesso de alguma forma. Por e-mail, relatórios técnicos, recomendações, atas de reuniões em que isso foi discutido e até painéis de especialistas", disse Paula. Para ela, a investigação aponta para crime doloso, quando há intenção. "Tudo indica que eles teriam que parar a produção e ficou-se sempre buscando uma solução que evitasse parar a operação", afirmou. Em nota, a Vale disse que "nenhum depoimento de funcionário da Vale indica conhecimento prévio" de risco iminente de ruptura. Ainda conforme a mineradora, as "questões apontadas nas auditorias vinham sendo atendidas sob a orientação das próprias empresas de auditoria". A empresa disse ainda que os depoimentos de seus funcionários "refutam qualquer pressão" para concessão do laudo de estabilidade da estrutura. Segurança A Vale preferiu ignorar e burlar normas de segurança, inclusive parâmetros adotados pela própria empresa, apontam as investigações sobre a catástrofe. Segundo as apurações, a companhia operou com índices abaixo dos considerados toleráveis, amparada sempre pelo mesmo modus operandi: contratar terceirizadas dispostas, para não perder contratos, a usar metodologias questionadas no meio e, se preciso fosse, substituir quem se recusasse. Desde novembro de 2017, foram pelo menos três advertências em relação à represa de Brumadinho, estudos com resultados maquiados, consultorias que assinaram declarações de estabilidade fora dos índices estabelecidos pela própria companhia e um vaivém de prestadoras de serviço, em uma aparente busca por aquelas que se enquadrassem na rotina da Vale. Os resultados assustavam até mesmo quem estava na linha de frente da mineradora. Tanto que um gerente-executivo preso na última operação da força-tarefa que investiga a tragédia em Brumadinho classificou a barragem como "tenebrosa". As informações constam em documentos da força-tarefa. O histórico dos critérios de avaliação de confiabilidade das represas remonta -pelo menos teoricamente- ao rompimento da Barragem do Fundão, operada pela Samarco, em Mariana (MG), em 2015. Na ocasião, houve mudanças na política nacional de segurança de barragens e também na organização interna da Vale. A empresa criou um setor específico para aperfeiçoar a gestão de risco na área de barragens e promoveu painéis independentes de especialistas para discussão e aconselhamento sobre a gestão de risco e segurança de estruturas geotécnicas, dos quais participavam também diretores setoriais e outros integrantes da mineradora. As informações são do jornal Estado de S.Paulo e do jornal Estado de Minas.